Hoje eu acordei cedo para ir até a Avenida Paulista. Mas não foi para trabalhar ou estudar. Vim apenas homenagear um cara que vivia sorrindo, abraçar alguns amigos que partilham da mesma dor e tentar mudar o mundo.
Hoje, com 20 anos, cheia de sonhos e dando um duro danado para realizá-los, não sei se volto pra casa. Não porque eu estou doente ou por um acidente, o que seria até compreensível. Hoje eu posso não voltar porque um cara gostou do meu celular.
Eu não fecho os olhos para a desigualdade social. Sei que falta segurança, cultura e o essencial e óbvio: falta investimento na educação, falta oportunidade.
Mas isso não justifica um garoto ser arrancado da vida por um motivo tão absurdo: MOTIVO NENHUM.
Inclusive, o assassino faz aniversário amanhã. Com um pouco de sorte (nossa), ele sai em dois anos. Ele terá 20 anos como eu (não como Victor Deppman, que não vai ter a mesma chance), será réu primário como eu e poderá começar qualquer projeto de vida que ele almeje.
Não espero Justiça apenas para o Victor. E não porque ele era da minha faculdade ou porque tinha a minha idade.
Eu só quero que não morram mais centenas de Victor todos os dias, por disparos que são feitos por um SISTEMA TODO. TODO ERRADO.
Eu sou a favor da redução da maioridade penal, sou contra regalias para acusados de crimes graves, mas acho que o buraco é mais embaixo, sim. Sei que a solução não é apenas punir o assassino do Depp. Mas espero que ele não tenha nos deixado em vão.
Espero que, em meio a tanta tristeza, saia algo bom. É a hora (já tardia) de discutir como arrumar tudo isso. Pressionar autoridades. Buscar maneiras de construir um mundo mais humano.
Talvez eu esteja realmente me posicionando porque fui atingida, mas espero que ninguém mais precise disso para compartilhar dessa luta.
Hoje, com 20 anos e uma enorme dor no coração, não sei se volto pra casa.