“Eu tinha medo de envelhecer, pois achava que não seria capaz de fazer todas as coisas que desejava, mas agora que sou mais velha descubro que não quero fazê-las.”
— Lady Nancy Astor
Achei que depois dos trinta eu ia saber.
Saber o quê? Tudo.
Ou pelo menos o suficiente para não tremer tanto quando as certezas ficassem tortas.
Mas os trinta chegaram como quem bate à porta e entra sem pedir, sujo de barro, e se senta na minha sala como se fosse dono da casa.
Vieram com boletos, silêncios mais longos, amigos que já foram e outros que ficaram mas não tanto assim.
Vieram com um corpo que já não responde tão rápido, com espelhos que me olham de volta com mais dureza — ou seria mais verdade?
Tenho medo.
Medo de não dar tempo.
De não acontecer.
De ser tarde demais para recomeçar ou cedo demais para desistir.
Os vinte eram barulhentos. Os trinta sussurram.
E no sussurro, escuto mais os ruídos que vêm de dentro:
a voz que pergunta se escolhi certo,
se estou onde deveria,
se existe mesmo esse lugar chamado “deveria”.
Tem noites que durmo como criança exausta; tem outras que o travesseiro me afoga em listas de tarefas que não fiz, sonhos que empilhei como papel amassado no canto de alguma gaveta.
Mas tem também alguma coisa nova.
Talvez seja força.
Ou cansaço.
Ou essa coragem mansa de seguir mesmo com medo — não mais esperando não senti-lo, mas segurando sua mão com firmeza e dizendo: "ok, vem comigo."
Depois dos trinta, não tem mais aquela urgência juvenil de ser extraordinária.
Tem só o desejo tranquilo de ser inteira.
Mesmo aos pedaços.
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👀
(Era isso ou uma trend do tiktok...)