Discutimos, choramos. Impasse.
Ensaio de uma reconciliação.
Ensaio de uma reconciliação.
Perguntei se estava tudo bem. Se estávamos bem.
Ele olhou nos meus olhos e disse sim. Me abraçou e caímos no sono assim.
Acordei, arrumei minhas coisas e tinha que ir embora.
Perguntei antes de decidir se falava que eu o amava: "a gente tá bem?"
Ele sorriu - como quem acha graça na paranoia alheia, como sempre achou - e respondeu: "estamos muito bem. Eu te amo."
Sumiu por dias. Era frio nas respostas. Julguei que eram os problemas no trabalho, rotina atribulada, stress mal lidado.
Ele sorriu - como quem acha graça na paranoia alheia, como sempre achou - e respondeu: "estamos muito bem. Eu te amo."
Sumiu por dias. Era frio nas respostas. Julguei que eram os problemas no trabalho, rotina atribulada, stress mal lidado.
Chegou uma mensagem no whatsapp.
E acabou.
Pausa essa cena.
Passou-se mais um semestre, dias atuais.
Uma amiga pede ajuda. Desesperada.
Ela mentiu. Estava sob pressão e mentiu.
Só que isso interferiu no "planejamento de vida" de uma terceira pessoa e essa ficou brava.
Minha amiga está com medo. Ela não mentiu por mal. Não acordou um dia e pensou "hoje eu vou inventar uma mentira só pra ver alguém chorar".
Minha amiga tem um coração enorme, jamais magoaria ou irritaria alguém de propósito.
Mas ela mentiu.
Oras, não é compreensível?
Todo mundo mente, o tempo todo. Seja porque chegou atrasado no trabalho e porquê não sabe como avisar a pessoa que tal roupa não lhe caiu bem.
As intenções são sempre as melhores. E sim, sabemos qual é o lugar que está cheio de gente bem intencionada.
Mas todos entendemos - e exatamente por isso o ditado famoso existe, imagino.
Tento consolar minha amiga com todos esses argumentos já apresentados.
Você é humana, Maria. Você pode errar, sabe? Pode beber até perder a razão, pode escolher um curso de faculdade que sabe que não vai terminar, pode mentir. Claro que é uma droga quando nossos erros pessoais interferem de modo negativo na vida alheia. Claro que não é muito justo. Mas aconteceu.
Qual é o problema das pessoas em aceitar o erro alheio, hein? Quanto exagero!
Você nunca errou, não, hein?
Nunca mentiu e não soube o que fazer com o monstrinho que criou e urrava de fome?
Começou com uma mentira sobre meteriologia e terminou com um casamento, não foi?
É, mentiras saem de controle.
O que a gente pode fazer é não se acostumar, não elegê-la como ideal, não se acostumar.
Voltamos há seis meses atrás.
A sensação foi de profunda traição. Preferia que ele tivesse transado com todas as mulheres da minha família mas não tivesse mentido pra mim. Preferia flagrá-lo com outra mas que ele não tivesse olhado nos meus olhos e afirmado algo que não sentia. Preferia não ter ficado atordoada quando o fim veio de uma maneira tão lancinante.
Sempre achei que foi de propósito, má fé mesmo. Não havia outra explicação.
Queria que mentiras sinceras explodissem todas e que todas as pessoas que magoam sem se importar fossem condenadas à prisão perpétua.
Eu sempre pedi para as pessoas pararem de mentir!
Sempre atribuí todos meus traumas à profunda irresponsabilidade alheia com os meus sentimentos, geralmente embasados em mentira.
A maioria dos posts desse blog ou do meu caderninho não deixam dúvidas...
Mas hoje não!
Hoje meu pedido é sobre tolerância e aceitação.
Sobre olhar para o outro ser humano que errou e reconhecê-lo como igual, com suas fraquezas. E perdoá-lo por isso.
Veja bem, mentira continua sendo algo horroroso. Mas se você não levar pro lado pessoal, pode enxergar uma perspectiva que nem sabia que existia.
Está tudo bem, ex namorado.
Está tudo bem, Maria.
Acontece.
E se vocês estiverem dispostos a tentar arrumar essa bagunça, mãos à obra, tá?
Responsabilidade com o sentimento alheio talvez envolva mentira também, porque envolve humanidade. Mas responsabilidade com o sentimento alheio talvez seja justamente se importar o suficiente para não deixar que a outra pessoa pague pelo seu erro, mas sem se martirizar por isso.
Essa responsabilidade provavelmente fique clara apenas na intenção mesmo. No se importar. Tente manifestar isso. Assuma as consequências e faça dessa experiência uma prova de importância.
Com amor e aceitação,
Maiara.