sexta-feira, 12 de abril de 2013

Hoje eu acordei cedo para ir até a Avenida Paulista. Mas não foi para trabalhar ou estudar. Vim apenas homenagear um cara que vivia sorrindo, abraçar alguns amigos que partilham da mesma dor e tentar mudar o mundo. 

Hoje, com 20 anos, cheia de sonhos e dando um duro danado para realizá-los, não sei se volto pra casa. Não porque eu estou doente ou por um acidente, o que seria até compreensível. Hoje eu posso não voltar porque um cara gostou do meu celular.

Eu não fecho os olhos para a desigualdade social. Sei que falta segurança, cultura e o essencial e óbvio: falta investimento na educação, falta oportunidade.

Mas isso não justifica um garoto ser arrancado da vida por um motivo tão absurdo: MOTIVO NENHUM.

Inclusive, o assassino faz aniversário amanhã. Com um pouco de sorte (nossa), ele sai em dois anos. Ele terá 20 anos como eu (não como Victor Deppman, que não vai ter a mesma chance), será réu primário como eu e poderá começar qualquer projeto de vida que ele almeje.

Não espero Justiça apenas para o Victor. E não porque ele era da minha faculdade ou porque tinha a minha idade.
Eu só quero que não morram mais centenas de Victor todos os dias, por disparos que são feitos por um SISTEMA TODO. TODO ERRADO.

Eu sou a favor da redução da maioridade penal, sou contra regalias para acusados de crimes graves, mas acho que o buraco é mais embaixo, sim. Sei que a solução não é apenas punir o assassino do Depp. Mas espero que ele não tenha nos deixado em vão.

Espero que, em meio a tanta tristeza, saia algo bom. É a hora (já tardia) de discutir como arrumar tudo isso. Pressionar autoridades. Buscar maneiras de construir um mundo mais humano.

Talvez eu esteja realmente me posicionando porque fui atingida, mas espero que ninguém mais precise disso para compartilhar dessa luta.

Hoje, com 20 anos e uma enorme dor no coração, não sei se volto pra casa.


domingo, 23 de dezembro de 2012

Quem quiser.

"Mas das últimas vezes, infelizmente não era sorrindo que eu olhava, era com desânimo, com saudade e mágoa misturadas. Por que você tinha que morrer? Por que você tinha que matar tudo que eu sentia? Me obrigar a morrer também. Me obrigar a fingir estar viva pra todo mundo. Me obrigar a não chorar, quando tive vontade de chorar. Vontade de te esmurrar, te dizer que você é um idiota, um babaca, um cretino, um fraco, nunca passou disso. Nunca uma piada sua foi engraçada, nunca você me surpreendeu. Nunca. Mas eu não consigo deixar de pensar em você, a cada dia, a cada ato meu. E quando eu procuro outras pessoas, eu procuro imaginando você me vendo. E tendo ódio de mim. Porque eu quero que sinta ódio. Porque ódio significa alguma coisa, e é melhor que indiferença. Você que já foi tudo, já foi minha esperança, foi meu futuro imaginado, hoje não é nada. Não passa de uma foto numa rede social. Se eu vivo bem sem você, porque eu continuo te olhando? Porque eu sempre volto aqui? Porque eu ouço músicas que falam de tristeza? Por quê? Você não vale isso. Mas eu faço. Eu continuo fazendo. Como uma cerimônia de luto, eu sigo a risca. Mas acontece que você não morreu de verdade, do jeito que eu preferia que morresse. Você está aí vivo, vivendo sua vida, fazendo suas coisas, feliz, tranqüilo, sem sentir minha falta, sem olhar minha foto em rede social. Porque eu não consigo? Porque você não podia ser alguém? Eu esperei muito de você? Não. Eu não esperei nada, eu entendi tudo, eu entendia o que ninguém entenderia. Eu respeitei. Eu fiz como você quis. Tudo. Eu me anulei. Eu deixei de me amar, pra todo meu amor ser só seu. Eu voltei atrás. Eu chorei, eu pedi desculpas, eu agüentei besteiras. Agüentei tudo. Ajuntando do chão, migalhas do seu carinho, migalhas do seu amor. Do seu jeito explosivo e calmo. Um dia me amando como se a terra fosse acabar depois da meia noite. No outro dia um desconhecido me pedindo pra tratá-lo como qualquer um, por favor. Você é meu personagem favorito. O dono de todos os meus textos, de todas as minhas histórias. O dono da curvinha das minhas costas. E eu tenho que dizer isso agora, só pra uma foto numa rede social. Porque você morreu na minha vida. Você pediu demissão, seu cargo era o de presidente, era membro honorário do conselho, tinha tapete vermelho e eu me vestiria até de secretária se te agradasse. E você pediu demissão, sem aviso prévio nem nada. Me diz agora? Como viver bem? Como sobreviver, sem essa ponta de angustia? Eu sou feliz, cara. Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar as vezes, me domina."


Emprestar palavras alheias muitas vezes parece uma alternativa confortável. E de conforto, você sabe: eu não entendo, mas é a minha mais constante busca. A gente lê o que o outro um dia escreveu e explica pro coração que ele não é único que já passou por isso. Ou aquilo. E capricha no rebolado para continuar vivendo a vida. E de rebolado, aí sim, eu entendo. Mesmo que não seja boa nisso.

Uma banda também me emprestou as palavras para que eu pudesse avisar a todos que eu estou ralando muito (dando um duro danado!) e é para sempre. Desisti de desistir tão fácil de tudo. Ou mesmo se for difícil. 

Estou mudando. Por mim mesma, dessa vez. De repente, a gente encara a realidade de frente e descobre novos caminhos a seguir. Sem atalhos, que é pra dar tempo de apreciar a vista.

Vejo vocês por aí.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sentido

- Você podia ao menos tentar não se machucar tanto, né? Fazer a fisioterapia direito, não exagerar...
- De verdade? To numa fase que prefiro machucar meu corpo do que meu coração.



Não sinto mais.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Deixo no amanhã.

- O que mundo fez com você, menina?



Repetia-se. A frase, a pergunta, a dúvida, a angústia.
Será?
Será que foi o mundo? Será que alguma coisa realmente grave aconteceu?
Veja bem... o mundo é ruim. Acontecem coisas ruins com pessoas boas, todos os dias.
Por que, então, eu me acho no direito - e dever - de me sentir, me achar vítima?
Eu sou uma iludida!
Fico esperando o melhor de tudo, fantasiando situações que provavelmente jamais existirão. Sou uma torcedora.
Falo muito - escrevo muito, penso muito - e faço pouco.
Com minhas ilusões, eu vou conseguindo viver a vida. Difícil é quando sou confrontada pela realidade.

A vida pode ser boa, às vezes. Um dia você entra no último minuto do jogo de uma semi-final contra um time forte e faz três pontos. Uma cesta, uma falta, um lance livre. Também pode acontecer de você voltar dirigindo cantando The All American Rejects e rir quando se perde para deixar uma colega de time em casa. No mesmo dia, já de noite, tem uma festa da sua faculdade - que você adora. Você dança muito, com gente bastante querida. Não bebe uma gota de álcool durante a noite, não fuma e descobre que dá para se divertir mesmo assim. Também ouve - de perto e bem alto - a banda profetizar:

"Se tudo tem que ser assim, então deixa ser!"


Só que ainda me sinto mais confortável na fantasia. Como disse, tenho esse apreço por ilusões. E não me sinto em paz desistindo de tentar fazer com que um tantinho disso que eu espero e acredito se torne real. Be the change.

Com ilusão é mais fácil mesmo. Na ilusão, as pessoas jogam limpo e sempre tem alguém para te inspirar a continuar. Com ilusão, muita coisa ainda pode acontecer e amanhã vai ser melhor.

Amanhã eu vou voltar para o meu estágio. Amanhã meus pais vão relembrar conceitos simples esquecidos. Amanhã vou comer menos besteira e correr 10 km sem sentir o joelho doer. Amanhã vou ao cinema sozinha. Amanhã as pessoas serão de verdade, pra valer. Amanhã vou ser melhor. Amanhã você nunca mentiu pra mim.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dor, doutor.


- Isso dói?
- Quanto você gosta da sua vida?
- Nada.
Repousou calmamente a caneta na mesa e me fitou profundamente. Provavelmente estava repensando sua carreira, todos aqueles anos quase frustrados na faculdade de medicina... Não que eu ligasse muito.
- Está tudo bem? Digo... fora o resultado desses exames que estão aqui.
- Só quero saber o quanto doeria.
- Você realmente sequer considera deixar isso na mão do destino? Seus órgãos estão parando. Você é nova.
- Exato. Sou nova. Não acha que isso talvez seja exagero?
Ele riu. Não foi uma gargalhada, mas foi mais do que um sorriso.
Permaneci séria.
- Não entendo...
- O que?
- Ok. Vou te explicar como funciona o tratamento...
- Não, doutor. É sério. O que acontece se eu não me tratar?
Ele não me encarava mais.
Procurou algo na gaveta ao lado da sua mesa e logo desistiu. 
- Eu não entendo...
- O que, doutor?
- Você faz faculdade?
Olhei desconfiada. Lá vinha.
- Faço.
- Quer se formar?
- Doutor, sério. Me responde, por favor.
- ...
- Sim, quero me formar. A ideia é terminar a faculdade sem dp nenhuma, aliás. 
- Você parece determinada...
- Não sou muito, não...
Outra pausa. Não saberia classificar aquele olhar em compaixão, pena ou incredulidade.
- Sobre o tratamento
- Doutor! - Interrompi de novo. Não precisei sequer continuar a frase.
- Seus órgãos vão parar um a um. Não sei te dizer qual vai parar primeiro e não posso responder sobre a dor com precisão, pois depende do órgão. Depende de vários fatores...
- Então pode ser que eles nem parem...
- Você é otimista!
- Não. Só não quero me tratar.
- Você é bastante tolerante a dor?
- Nem um pouco.
- Não parece assustada.
- Olha... eu poderia te dizer que eu caí de um cavalo e fui pisoteada por um rebanho antes de saber escrever. Posso te contar que eu quebrei o pé e minha mãe não acreditou e só fui parar no hospital quando uma professora minha ficou inconformada com o tamanho do inchaço, dias depois. Posso falar das violências que já sofri. Posso falar que já fiquei presa em um anzol. Contar que tenho uma coordenação motora horrível e caio com frequência. Posso te lembrar da queda que tive ano passado, quando tive uma convulsão e chorava de dor todo dia, por mais de um mês... Posso fazer isso...
- Você parece bem resistente.
- Eu diria que estamos aí.
- ....
- Que foi?
- Não se acha resistente?
- Eu acho que tenho uma história complicada.
- É, seu histórico é bastante ruim.
- Não to falando de saúde.
Ele voltou a me olhar no olhos. Me encarou com firmeza. 
- Você é forte.
- Sou resistente.
- Mas foi o que eu disse primeiro...
- Sim.
- Quer me explicar?
- Não.
Ele riu.
- Então. A primeira parte do tratamento é muito simples.
- Vai doer?
- Já disse que não consigo te responder precisamente...
- Mas o que você acha?
- Acho que vai.
- Não vou fazer.
- Você acabou de falar que é resistente!
- Exato. Você não acha que eu já resisti a muita coisa?
- Esse tipo de coisa acontece...
- Eu sei.
- E então?
- Não quero.
- Não quer se tratar?
- Não quero viver em um mundo que essas coisas acontecem.
- Mas são acidentes. Entenda... eu sequer teria um emprego se isso não acontecesse.
- Você vive da desgraça alheia.
- Vivo para salvar as pessoas.
- Ah é? - desafiei.
Ele riu de novo. Dessa vez foi gargalhada, sem um pingo de ironia.
- Vamos lá. Você é resistente. Já passou por um monte de coisa. Por que não se tratar?
- Não acho que vale a pena.
- Você não vale a pena?
- Não.
Ele coçou o queixo. Pegou a caneta, estalou. Coçou a cabeça.
- Não entendo...
Bocejei.
- Você já foi pisoteada por cavalos, ficou dias com o pé quebrado, sofreu uma queda feia e ficou sem tomar remédio para dor... Menina!
- Eu cresci em uma família hostil. Fui traída por namorados com melhores amigas. Perdi grandes amigos em acidentes de trânsito, quase na mesma semana. Minha melhor amiga mora em outra região do país. E ainda não sou capaz de falar sobre meu amigo...
- Tudo bem.
- Que?
- Não precisa falar. Sou seu médico há algum tempo, lembra?
- Você sabe a história?
- Pouco... Sei que uma das minhas pacientes mais divertidas ficou muito tempo sem um brilho no olhar... Vinha aqui, conversava, ria das minhas piadas sem graça de médico... Mas estava vazia.
- Eu não lembro de você.
- Sério?
- Sim.
- É por causa dele que você não quer se tratar?
- Não. É por mim.
- Você opta por algo irresponsável e que pode te matar... por você?
- Basicamente.
- Menina!
- Não seja dramático!
Estava começando a gostar daquele sorriso. Fiquei pensando no nível de carência que é necessário alguém alcançar para ficar tanto tempo conversando com seu médico...
- Então. Você vai se tratar, dra-má-ti-ca.
- Por que você faz tanta questão disso?
- Eu não ganho comissão por vida salva, sabe? Isso é só meu trabalho.
- Olá, Balotelli.
- Você acompanha futebol, então?
- Eu não gostava de futebol aos quinze anos?
- Não. Você era emo, lembra?
- Sério? O meu médico, que eu nem sabia que era meu também tá me zoando? Eu posso te processar, não posso?
- Só se você se tratar.
Fiquei sem reação.
Mentira. Apenas não tinha percebido a reação que havia tido.
- Eu...
- Você ainda sabe sorrir!
Meu sorriso se abriu mais.
- Olha, cara. Curto gente chata. Curto quem presta atenção em detalhe. Como funcionaria essa droga de tratamento?
- Você faz o que eu mandar, toma os remédios que eu passar e aí teremos muito mais da sua rabugice por mais tempo.
- Oi?
- São apenas alguns remédios, pra começar. Checamos como seu organismo reage e só se ele negar tudo a gente vai ter que pensar em algo tipo diálise...
- Com aqueles gelzinhos?
- Você ainda se diverte em hospitais?
- Só quando meus médicos são legais.
- Você não disse que sou chato?
- E é.
Ele levantou apenas uma das sombrancelhas.
- Então...
- Cara! Eu sempre quis fazer isso!
- O que?
- Levantar só uma sombrancelha.
- Vamos falar do seu tratamento?
- Vamos, né. Você não quer mais conversar comigo...
- Eu não sou psicólogo, sabe...
- Ainda bem. Detesto psicólogos.
- Eu também.
- ...
- Mas então. Você vai me contar como fez para levar seus órgãos à falência?
- Eu sou muito ruim com dinheiro, cara
- É muito ruim de piada, na verdade.
HHAHAHAHAHAHAHAHA. Gostava daquele cara. Nerd. Passar anos estudando para virar médico? E de fato se importar com a vida? Que chatice.
- Você sabe como eu consegui.
- Sei a parte teórica.
- Como assim?
- Sei que você não pode nem ver uma sonda até hoje sem passar mal. Vi você se arrepiando quando a enfermeira falou de lavagem estomacal. Reparei sua nova ânsia instantânea com comprimidos.
- Eis a história toda, ué.
- Me conta o começo dela.
- Tive um dia ruim. Depois de muitos ruins. Depois de muita coisa chata, além da história que a gente não conversa. E aí tinham algumas caixas de remédio. 
- Só isso?
- Esperava o que? Choro, desespero, promessas? Não... nada de especial. Foi só eu parada em frente à comoda me deliciando com balinhas, todas que haviam na caixa.
- Não parece ruim.
- Não foi.
- Mas é ruim.
- Só porque não me deixaram em paz.
- Não entendo...
- O que? 
- Você tá bem mesmo?
- To ótima. Só alguns órgãos aí estão parando e meu médico quer investir na psicologia.
- Foi só uma curiosidade.
- Tudo bem.
- Mesmo?
- Sim... tirando meus órgãos, como eu disse.
- Você é chata, hein.
O encarei.
- Eu vou fazer o tratamento só porque quero voltar aqui e te encher o saco.
- É isso que você faz? Convence alguém a querer te salvar e sai do aperto sozinha?
- Mas nunca foi de propósito.
- Tentou se matar de propósito?
- Falando assim parece muito ruim.
- Você não acha que foi ruim?
- Foi ruim. Porque envolveram aquelas sondas e quase um ano depois eu estou aqui, pagando por cada comprimido, não estou? 
- Acha que é um castigo de Deus?
- Não.
- Você acredita em Deus?
- Acho que sim. E se ele existir, ele não vai me presentear com o que eu quero para me castigar, não é mesmo?
- É de se pensar.
- Você sempre enche assim quando quer que uma paciente se trate?
- Pelo menos não tomo comprimidos.
- Touché!
Ele riu, envergonhado. 
- Desculpa.
- Cara, eu não tomaria comprimidos... por você. Mas vou tomar esses... também por você. A gente se vê.
- E se doer?
- Deixa que de dor eu entendo. Mas eu nunca tinha conhecido alguém que liga pra dor do outro... e acho que isso faz toda a diferença para que a gente aceite melhor a dor da gente.



Dei um beijo na bochecha do meu médico, peguei as receitas em cima da mesa e saí.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Permissão - no crédito.

Mesmo alguém com um grau de paranoia elevado, como eu, sabe aproveitar e amar tempos de calmaria.
Lembro-me perfeitamente das palavras de Cazuza: "o amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível."
Verdade.

Amor é vida.
E deixe todos seus traumas, receios e perversões de lado para me entender: vida é amor.
O amor é a base. Todo mundo precisar amar. Amar a família, amar o namorado, amar os amigos, amar o trabalho, amar o dinheiro. Amar. Mas se é preciso saber viver, é preciso também saber amar. 
Cuidar, ensinar, aprender. Passar noite em claro, comemorar vitória que não seja sua, estremecer de preocupação, irritar-se com a teimosia alheia. O amor está em tudo. Bem a nossa volta.


E quando estamos completamente apaixonados por nós mesmo, podemos propagar isso ao mundo.


Eu amo.
Tenho esse apreço injustificável pelo drama, pelo tormento, por dar um nó na minha mente. Repito os mesmos erros nos meus relacionamentos, sempre sinto falta das mesmas coisas. E, por Deus, como sou exagerada!
Mas aí, de repente, entendo o vento como sopro, como força para ir além, um pouco mais. E resolvo repousar. Admirar o que há de lindo e o que há de ser. E acalmo o meu coração.
Sem bens, sem nomes diretos, sem convite de chá de bebê, camiseta estampada ou aliança no dedo. Amor é tudo isso. Amor é o tempo todo.
Amor é amor, e é bonito, quando a gente deixa ser.
Permita-se, na ausência de outras opções, apenas amar a vida. E você.







(A Maiara, cheia de impropérios, borros de maquiagem e cicatrizes no coração, cansou de pedir e hoje só queria agradecer - pelo coração quase saltando do peito quando New Found Glory a acorda todo dia pela manhã, pela calça um número menor que coube e combinou com o sapato novo, pelos 10 pãezinhos de queijo na estação que servem de reforço para conseguir subir o escadão sem se abalar com a dor no joelho e no calcanhar, pelo bom dia com cheiro de café dos colegas de trabalho, pelo almoço com prato repleto de salada que ela sentia falta, por conseguir resolver uma crise para um cliente, pelas conversas cheias de risada à caminho da faculdade, pelos abraços que nem precisam ser solicitados, pelas aulas que lhe acrescentam e ensinam de verdade e por ir dormir todo dia sem reclamar da respiração. Por toda a paz que chegou, que pode ficar quanto tempo quiser, possivelmente trazida por expectativas comprimidas, ausência de ilusões, gestos fofos, sinceridade nas atitudes e cafuné no abraço de conchinha de cada final de semana.)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Teoria do Sorvete - Exceções e Excessos.

Podia, né? A gente se beijar, se abraçar e não ter cobrança.
Parece que o mundo se dividiu. Os que querem um romance e não admitem o amor livre versus Os que desacreditam e são contra tudo isso e querem apenas um orgasmo.
Por que ver tudo como extremos opostos? 
Dá pra somar! Multiplicar...
Dá pra você me ligar, falar que curtiu, que quer repetir, quem sabe.
Eu ficarei feliz, contarei para alguma amiga e sairemos de novo.
Sem promessas, sem ilusões. Só a gente. Pra variar.
Que tal?
Não estou pedindo amor, aliança e satisfações. (Nem ferrando, aliás.) Mas eu gosto de não ter o trabalho de jogar todo o joguinho da sedução em uma noite que estou a fim de ir embora acompanhada. 
Não é porque eu sou mulher que tenho a obrigação de estar apaixonadinha. Nem o fato de você ser homem te obriga a me ver como um pedaço de carne. 
Eu também gosto de sexo e aposto o que for que você também gosta de carinho. Sexo, cafuné, dormir de conchinha é tudo o que eu poderia querer pra nós. Viu, só? Querer, sem exigir.
Pode me pegar, tá liberado. Mas pega na minha mão também, sei lá. Só para eu saber como é. Tenho tanta necessidade de contato físico quanto de gestos fofos. E não, eu não vou confundir as coisas.
Sou grandinha, sou vacinada.
Prometo não encher o saco. E não me encha também.
Vamos conhecer outras pessoas. Não tem nada de mais.
Mas tudo isso só vale se você quiser também. Não tem graça se eu estiver nisso sozinha. Nem sou tão egoísta a esse ponto.
Vamos nessa?
Apenas aproveitar a eternidade desse instante. Todo mundo lucra.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Dei o meu coração à ele.

Dê seu coração a ele, e ele lhe dara o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?




Estava chovendo. Sim, faz muito tempo e qualquer um dirá que é impossível que eu me lembre, mas sei que estava chovendo. Ele chegou quase que embrulhado pra presente, pagamento da promessa da minha mãe que jurou que me daria o que eu quisesse se parasse de chorar. Com toda minha desenvoltura de dois anos de idade, pedi por um cachorro. Chegou algum tempo depois, num sábado chuvoso e eu brinquei com ele até dormir de cansaço. No dia seguinte, bem cedo na manhã do domingo, o batizei de Xuxo. Oras, meus ídolos infantis não era muito bons mesmo, mas com dois anos e fã da Xuxa, achei que era uma baita homenagem ao meu novo amigo peludo.
Digo amigo e me lembro de todos meus ideais, valores e princípios que me fazem enxergar a amizade como algo eterno. Para mim, amizade transcende. E não há discussão, diferenças ou competição que a faça acabar. Ao menos não se ela for verdadeira. 
Xuxo era mais que o mascote e o segurança da casa. Sim, ele era mimado por todos, até por quem não fazia parte da família e latia quando algum estranho cheva em casa. Mas isso era só o seu instinto.
Xuxo era meu amigo. Me lambia no rosto, corria pra mim quando eu chegava em casa e nunca, nunca saiu do meu lado.
Xuxo ouviu todos meus dramas infanto-juvenis. Ouvia e ouso dizer que me aconselhava com seus olhares. O olhar dele sempre foi seu ponto forte. Foi por causa do olhar dele que decidi que ele não tomaria mais banho fora, porque ele visivelmente detestava. Foi pelo olhar dele que eu sabia quando ele estava doente, quando ele estava assustado, quando ele só estava fazendo manha.
Eu o conhecia muito bem.
Foi pelo olhar dele também que eu entendi que ele queria ir embora. Ele tinha acabado de sair do banho, eu o secava, ele virou a cabeça desconfortavelmente para mim e pediu. Eu não aceitei, é claro que não. Como poderia? Não, ele ia lutar. Ele ia ser forte como foi a vida toda e ficaria mais tempo. Eu precisava disso.
É irônico, né? Um bicho tão egoísta como o ser humano resolver ter como companheiro uma raça tão pura e superior. 
Eu pensei em mim, na falta que ele faria, em como seria não escutar os latidos dele, me gabar das peripécias dele e com quem eu desabafaria. 
Não, ele não podia me deixar. Que tipo de amigo é esse que me abandona depois de 17 anos?
Foram mais de 17 anos com o mais leal dos companheiros. Foram pouquíssimas horas de sono, muita preocupação, muitos remédios e muita dor durante essa semana inteira - de ambas as partes. Então, num sábado a noite chuvoso, após três convulsões e muitas lágrimas, tive que tomar a decisão mais difícil da minha vida. É horrível, mas acredito ter feito o melhor, evitando o sofrimento de um espírito que jamais mereceria o prolongamento disso. Meu cachorro, meu melhor amigo e ouvinte por praticamente a vida inteira, vai descansar para sempre. E eu já estou com muita, muita saudade.



Um cão não é 'quase humano', e não conheço maior insulto à espécie canina do que descrevê-la como tal.
John Holmes 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Comigo nunca.

Sabe aquele momento que você retribui empolgadamente o aceno de alguém e descobre que não era pra você? aí você tem que disfarçar, dá uma espreguiçada e finge que nem era aquilo, como se seu gesto tivesse sido apenas um mal jeito no pescoço?
Minha vida amorosa é assim.


Cumprimento várias pessoas, todos os dias. Às vezes, me dá a impressão que conheço de algum lugar o carinha que me olha do outro lado do vagão do metrô. Se ele sorrir, eu retribuo, porque ele deve me reconhecer também. Mas não... Ele só queria me avisar que a bolsa estava aberta...
Eis um ótimo exemplo para entender o tipo de relações que estabeleci ao longo da minha vida.

Nunca tive alguém (que não fosse apenas amigo) para ligar quando eu me estressei com meu chefe. Nunca tive alguém para passar o dia junto, intercalando banhos de banheira e filmes de suspense. Nunca abracei alguém e senti o coração dele querendo pular pra fora do peito como o meu.

Admito que talvez a culpa seja minha.

Nunca me permiti acreditar em palavras fáceis e sentimento de estação.

Mas talvez eu apenas não saiba curtir. Me deixar levar sem pensar no depois. (Eu sempre penso. Demais.)

Parece que tem coisa que só não acontece comigo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Agora não.

O fim já tinha chegado. Chegou e passou. Você sabia. Vocês não se falavam já tinha algum tempo. Nem pela internet. Você ficou sabendo que ele recebeu uma promoção no trabalho pelos amigos em comum. Viu no facebook que ele tinha cortado o cabelo. Mas você não ligou para dar parabéns nem comentou a foto. Ele não faz mais parte dos seus dias. Não faz mais parte de você. Você mesma tem frequentado mais open bares do que seu fígado pode aguentar. Fez novos amigos. Passou uma temporada no hospital e nem se preocupou em avisar ninguém. Estava cogitando aceitar o cinema com aquele cara da academia que sempre deu em cima de você. A vida estava seguindo normalmente e feliz.

Por que isso agora, então?
Isso não faz muito sentido!


Não, não faz.
E aí ele não te quer mais? Você também não quer mais ele. Certo?

Mas eu sei, incomoda. Ela faz bem mais o tipo dele. Ela dirige, fala inglês e tem a mesma idade. Ela até parece ser bonitinha. Mas pera lá, ela comete erros de português e divulga correntes na internet. Não tem nem metade do senso de humor que você orgulhosamente possui. Não sabe nem se divertir.

O que ele viu nela?

Bem, isso vai doer, mas sabemos o que ele não viu: você.
Desculpa, mas é a verdade e alguém tinha que lhe falar.

Ele não viu suas mechas descoladas, nem seu estilo inconfundível, nem seu sorriso incrível. Mas foi mais do que isso. Ele não viu ela resmungando para ele não pagar a conta, pedindo por mais atenção ou reclamando do modo que ele dirige. Ele não viu ela de óculos e short curto pedindo pra ele relaxar. Ele não quer mais você.
E você também não o quer. Ela que vai ter que lidar com o machismo e desconsideração dele, não é? Você se safou!

Por que diabos então você não está comemorando? Dói, né? Eu sei. Mas foi melhor assim. Você sabe. Você tentou. Vocês tentaram.
Dizem que os opostos se atraem, mas pode reparar: ninguém disse que eles dariam certo.

Às vezes, precisamos colocar um ponto final onde as vírgulas já não fazem mais diferença.