segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Desencontros Planejados

Ela não queria um novo começo. Só queria que o final tivesse acabado bem.




Ela sempre detestou mal-entendidos. Coisas mal acabadas. Se for pra ser, que seja! Mas que seja por completo. Nada de meio termo. Nunca. Ela era de extremos. Vivia a vida em corda bamba. Arame farpado e bambo. E gostava. Era o jeito dela, o que ela escolheu pra viver.


Aí ela conheceu aquele garoto. E ela nem sequer lembrava que o coração às vezes bate mais forte, por alguém especial. E aconteceu com ele. Quando ela estava com ele, quero dizer. Ela entrou no msn dele. Ele entrou na mente dela. Eles conversaram durante madrugadas, tiveram o primeiro beijo quando fogos de artifício brilhavam no céu e parecia que os desejos dela, feitos à meia noite, poderiam se realizar. Ele tinha um jeito de (des)arrumar o cabelo que a imobilizava e uma maneira de pegar na sua mão que faziam as borboletas no estômago dela irem parar na faringe. Possuía uma gramática que às vezes a incomodava, mas tinha um dom com as palavras que selou o contrato que ela assinou sem saber o valor que teria que pagar. Ele falava do céu e sua imensidão, das estrelas que ela sempre admirou e das músicas que ela sempre esperou que significassem tanto para alguém quanto significava para ela. Ele tinha piercing e tatuagens e mesmo assim era um cara que ela não ligaria de apresentar aos seus pais, aos avós e ao resto do mundo. Ele a fez perder tempo. E aí o tempo passou e levou com ele todos os sonhos que eram só dela.



Ela superou. Menina crescida. Vivida. Desiludida. Nunca acreditou muito em amor masculino, fidelidade e similares. Aquilo tinha sido apenas um teste que ela ficou de recuperação, mas no final acabou conseguindo passar de ano. Ela voltou a sua vida agitada de universitária, com toda tequila que tivesse direito. Ela sofreu muito pouco para uma pessoa tão dramática e intensa. Mas é realmente difícil tirar da cabeça algo que está no coração. Ela não queria ele. Não mais. Mas ela nunca mais aceitou flores de ninguém. Tudo bem, ela não tem mais ele. Não quer mais ele. Mas e os sonhos, os dias e os planos vivenciados com ele? Por ele? Ela pode muito bem arranjar um outro carinha para ter na mente, nos braços e no coração. Mais de um. Uma dúzia. Uma legião. Mas é que a simples menção de algum evento na cidade de Severínia ainda a incomoda. Ela parou de fazer as apostas de sorvete e não busca mais curiosidades ridículas na internet. Passou a odiar coelhos e abandonou de vez os discos do Anberlin, assim como as estrelinhas de papel. Ela comprou roupas ainda mais curtas só de pirraça e deixou de beber Brahma. Ela odeia o natal com ainda mais intensidade e não consegue mais se entusiasmar com o carnaval como antes.

Mas ela nunca quis mudar.
Ela só queria poder lembrar com carinho e sinceridade de tudo que ela viveu com ele. De tudo que eles viveram. Juntos. Só isso. Ela só queria arranjar coragem para voltar a escutar Fresno e Pull Down...

Não. Eu não queria.. Não quero um novo começo. Só queria que o final tivesse acabado bem.



(Ela refez o final do texto mais de cinco vezes. Pena que histórico de relacionamentos não possuem a incrível opção "delete". Ela já cansou de "ctrl+c" + "ctrl+v".)

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