Não estou iniciando essa carta com um vocativo simplesmente porque não sei a quem endereçar.
Mas é muito importante que saibas. Para mim. Por mim.
É verdade que passei as últimas horas
É verdade que sempre fui de desabafar no papel - que hoje se transformou em uma tela e um teclado. Também é verdade que sou feminista e entusiasmada com a maternidade ativa. Também tenho fortes ideais sobre respeito e humanidade - e foi por conteúdo feminista que cheguei até o blog da mãe da Helena.
Mas isso é só para indicar a linha de raciocínio usada para chegar até essas palavras que registro agora.
Minha mãe é o meu ser humano predileto, embora ela tenha absurdas falhas. Ela quase nunca me ouve, por exemplo. E ainda que eu tenha essas teorias quase comprovadas de que descaso e solidão são fatais para um ser humano, acho triste ver como a boa vontade não é suficiente para salvar as pessoas.
Mas é possível salvar as pessoas.
E por isso também não sei para quem destinar essa carta. Não sei, afinal das contas, se irei deixar um ser humano como legado ao mundo. Eu quero. Muito. Mas fora da maioria dos padrões que querem nos impôr - ainda mais em padrões afetivos.
Eu tenho muito, muito medo de passar por uma gestação. Os motivos vou deixar para contar em outro momento antes que a reflexão aqui fique confusa. Mas eu realmente quero acompanhar um ser humano, desde a sua concepção, e fornecer as melhores condições para que ele se torne uma pessoa absolutamente incrível.
Adoraria fazer parte da construção de um mundo capaz de desenvolver seres humanos incríveis.
(Veja bem, à essa hora eu "deveria estar no JUCA". É um evento esportivo universitário muito importante para a faculdade em que me formei. Não estou lá por inúmeros motivos de saúde e do coração. Mas eu vou na sexta-feira, então pode se acalmar.
Só citei esse fato para destacar a importância de que você leia esse desabafo.)
Eu - como a maior parte das pessoas, provavelmente - busco sempre o melhor.
Sendo um conceito abstrato, o "melhor" acaba variando bastante. Justamente por isso comecei a participar ativamente de lutas sociais.
Hoje mesmo minha mãe falou, após eu tecer mil comentários sobre o racismo velado, o quanto eu levo tudo muito ao pé da letra e que deveria "ficar mais na paz". Ela também manifestou seu desejo de que eu seja presidente da ONU um dia.
Acho que a questão é por aí.
Não quero, de maneira alguma, ditar que apenas a minha forma de enxergar é a correta, longe disso.
Mas acho que só explicando incansavelmente - ou seja, expondo as atitudes preconceituosos, desconstruindo nossos próprios preconceitos - e respeitando sempre, que é possível caminharmos rumo a um mundo mais justo. Mais bacana.
Eu quero fazer algo de bom pro mundo. É isso que me move - por mais tendências suicidas que se observem no meu comportamento e personalidade. Talvez justamente essas tendências suicidas sejam a demonstração do quanto quero oferecer ao mundo. Às pessoas, principalmente.
Gosto muito da vida, sabe? Só não gosto de viver mesmo. Mas acho essa possibilidade de, a cada dia, almejarmos o melhor e nos dedicarmos a se tornar melhores, fascinante.
Estou no projeto final para fundar uma ONG para apoiar pessoas. Tento incorporar todos meus princípios em cada gesto.
Tenho esse jeito forte, turrão, que tantas pessoas leem como egoísmo e grosseria quando queria apenas oferecer meus braços para que o mundo se apoiasse. Tento abraçar os mundos com as pernas, sabe?
Queria me explicar porque sei que muitas vezes não faço sentido - tal qual a vida.
Queria também copiar mil trechos das cartas da Paola para a pequena Helena para me justificar, assim como sempre fiz tantas outras vezes com Tati, com Caio, Clarice, Fe e mil compositores.
A questão é que não dá - porque não faz sentido. Explicar-me com palavras de outra pessoa?
Ainda que faça sentido para mim - em um ponto intrínseco e num momento singular - é quase irresponsável fazê-lo. Porque não é completamente honesto com nossa alma. Nossa alma é o próprio manifesto necessário do nosso ser.
Quem eu sou, afinal?
Eu sou boa. Sou completa. Me sinto infinita.
E já que sou, o jeito é ser.
Seja também.
Com amor,
Maiara.
"Quem em cada pouco põe tudo que é,
merece ser feliz.
E muito."
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