quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Poder patriarcal ou-presidencial

Eu sou meio de esquerda, como um dos meus autores favoritos, o Antônio Prata. Mas não sou nada intelectual. Nascida em uma família de estudiosos, saí completamente às avessas. Amo ler, mas só quando estou a fim. E por favor, não me apareça com livros grossos e filosóficos (and teóricos)) quando posso reler pela milésima vez Harry Potter e as Relíquias da Morte. Sou extremamente perfeccionista, mas o grande desafio é me fazer levantar da cama. Sou feminista também, o que me coloca muitas vezes em posições complexas quanto à predileção por alguém que exerce poder sobre mim, como citado no início desse texto.

Três dias após a reeleição de Dilma, venho discutindo cada vez mais sobre política. A verdade é que eu não curto política, mas acredito absolutamente na máxima "se você não gosta de política, será governado por quem gosta". Ou algo assim. Então vez ou outra você vai me ver esmiuçando teorias por aí. Mas sou completamente uma pessoa de prática. Marthinha me pegou perfeitamente quando afirmou que fatos revelam tudo, atitudes só confirmam (E o que se diz - com todo o respeito - é apenas o que se diz).
Há teorias, inclusive, que eu deveria ter seguido carreira na área de exatas. Mas isso são só teorias, é claro. Embora esteja claro que eu amo uma boa e velha referência. Mas aí é só pra embasar e deixar mais bonito o que se faz.

Meu interesse supostamente tardio por discutir política após passadas às eleições tem um motivo muito claro: eu não suportaria ver um agressor de mulheres na Presidência do meu país.
É isso.
Claro, também tenho algumas coisas que admiro profundamente em Dilma. O passado dela faz meu coração vibrar, discretamente que é para não soar petralha demais. Como presidenta (e o choro é livre!), minhas críticas são bem maiores. Ainda assim, o plano econômico dela me assusta. Me assusta porque como qualquer pessoa que vive nesse mundo (capitalista), também gosto de ganhar dinheiro. Também me considerei traída perante algumas falas homofóbicas e retrocessos em políticas de reprodução. Não que eu tenha qualquer dúvida de que Aécio seria incrivelmente pior nesses aspectos. Os de humanidade, eu digo, porque economia, hm, talvez ele se saísse bem. Talvez.
Mas eu sou mulher.
Minha mãe foi vítima de violência doméstica, assim como a esposa do meu pai que veio antes da minha mãe.
Cresci numa sociedade patriarcal onde eu fui erotizada quando nem desconfiava o que aquilo significava.
Por fim, sofri todo tipo de abuso que uma mulher pode sofrer.
Mas o que me deixa mais assustada, mais incomodada, é que eu estou longe de ser exceção.
Violência contra a mulher é institucionalizada.
E como dizem por aí, o pessoal é político.
Cada notícia de feminicídio, cada assédio que sofro ou presencio, cada estupro coletivo que chegam ao meu conhecimento me afetam. Porque poderia ser comigo. Isso é sobre mim.
Posso ter deficiência de conhecimento teórico feminista, sim, mas eu sei o que é ver uma agressão que nunca será denunciada ser digerida como normal pela própria vítima. Sei o que é duvidarem da denúncia quando ela é feita. Sei da culpa e da vergonha que serão carregadas pra sempre.
Sei, então, que preciso fazer algo a respeito.

Há quem diga que "atitudes da vida pessoal do candidato não deveriam ser levadas em consideração". Eu discordo.
Passo mal só de ouvir falar o nome de algum filme do Woody Allen. Porque consigo entender como Dylan se sente, como ela passa a maior parte dos seus dias fingindo que a violência terrível que ela sofreu não tenha tido tanta relevância.
Não quero que ninguém precise passar por experiências traumatizantes para entender quão desrespeitoso é dar qualquer crédito a quem feriu a alma de outra pessoa.
Acredito em direitos humanos e ressocialização de condenados à crimes, mesmo os hediondos, mas acredito que seja importante considerar o conforto da vítima sobrevivente.
Acredito mais em humanidade do que na humanidade, sabe?

Por tudo isso, fiz questão de ir à votação com uma camiseta escrito o que repeti nas redes sociais: não voto em quem bate em mulher. Não pra ser presidente da república. Não quando tantas mulheres são torturadas rotineiramente e ninguém se importa. Não quando poderia ser comigo. Não agora.

Tenho algumas dúvidas quanto à capacidade de Aécio governar bem, mas o resultado das eleições apenas representou a minha maior certeza: o poder dos misóginos está diminuindo.

Só a luta muda a vida.

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