segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Deixo no amanhã.

- O que mundo fez com você, menina?



Repetia-se. A frase, a pergunta, a dúvida, a angústia.
Será?
Será que foi o mundo? Será que alguma coisa realmente grave aconteceu?
Veja bem... o mundo é ruim. Acontecem coisas ruins com pessoas boas, todos os dias.
Por que, então, eu me acho no direito - e dever - de me sentir, me achar vítima?
Eu sou uma iludida!
Fico esperando o melhor de tudo, fantasiando situações que provavelmente jamais existirão. Sou uma torcedora.
Falo muito - escrevo muito, penso muito - e faço pouco.
Com minhas ilusões, eu vou conseguindo viver a vida. Difícil é quando sou confrontada pela realidade.

A vida pode ser boa, às vezes. Um dia você entra no último minuto do jogo de uma semi-final contra um time forte e faz três pontos. Uma cesta, uma falta, um lance livre. Também pode acontecer de você voltar dirigindo cantando The All American Rejects e rir quando se perde para deixar uma colega de time em casa. No mesmo dia, já de noite, tem uma festa da sua faculdade - que você adora. Você dança muito, com gente bastante querida. Não bebe uma gota de álcool durante a noite, não fuma e descobre que dá para se divertir mesmo assim. Também ouve - de perto e bem alto - a banda profetizar:

"Se tudo tem que ser assim, então deixa ser!"


Só que ainda me sinto mais confortável na fantasia. Como disse, tenho esse apreço por ilusões. E não me sinto em paz desistindo de tentar fazer com que um tantinho disso que eu espero e acredito se torne real. Be the change.

Com ilusão é mais fácil mesmo. Na ilusão, as pessoas jogam limpo e sempre tem alguém para te inspirar a continuar. Com ilusão, muita coisa ainda pode acontecer e amanhã vai ser melhor.

Amanhã eu vou voltar para o meu estágio. Amanhã meus pais vão relembrar conceitos simples esquecidos. Amanhã vou comer menos besteira e correr 10 km sem sentir o joelho doer. Amanhã vou ao cinema sozinha. Amanhã as pessoas serão de verdade, pra valer. Amanhã vou ser melhor. Amanhã você nunca mentiu pra mim.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dor, doutor.


- Isso dói?
- Quanto você gosta da sua vida?
- Nada.
Repousou calmamente a caneta na mesa e me fitou profundamente. Provavelmente estava repensando sua carreira, todos aqueles anos quase frustrados na faculdade de medicina... Não que eu ligasse muito.
- Está tudo bem? Digo... fora o resultado desses exames que estão aqui.
- Só quero saber o quanto doeria.
- Você realmente sequer considera deixar isso na mão do destino? Seus órgãos estão parando. Você é nova.
- Exato. Sou nova. Não acha que isso talvez seja exagero?
Ele riu. Não foi uma gargalhada, mas foi mais do que um sorriso.
Permaneci séria.
- Não entendo...
- O que?
- Ok. Vou te explicar como funciona o tratamento...
- Não, doutor. É sério. O que acontece se eu não me tratar?
Ele não me encarava mais.
Procurou algo na gaveta ao lado da sua mesa e logo desistiu. 
- Eu não entendo...
- O que, doutor?
- Você faz faculdade?
Olhei desconfiada. Lá vinha.
- Faço.
- Quer se formar?
- Doutor, sério. Me responde, por favor.
- ...
- Sim, quero me formar. A ideia é terminar a faculdade sem dp nenhuma, aliás. 
- Você parece determinada...
- Não sou muito, não...
Outra pausa. Não saberia classificar aquele olhar em compaixão, pena ou incredulidade.
- Sobre o tratamento
- Doutor! - Interrompi de novo. Não precisei sequer continuar a frase.
- Seus órgãos vão parar um a um. Não sei te dizer qual vai parar primeiro e não posso responder sobre a dor com precisão, pois depende do órgão. Depende de vários fatores...
- Então pode ser que eles nem parem...
- Você é otimista!
- Não. Só não quero me tratar.
- Você é bastante tolerante a dor?
- Nem um pouco.
- Não parece assustada.
- Olha... eu poderia te dizer que eu caí de um cavalo e fui pisoteada por um rebanho antes de saber escrever. Posso te contar que eu quebrei o pé e minha mãe não acreditou e só fui parar no hospital quando uma professora minha ficou inconformada com o tamanho do inchaço, dias depois. Posso falar das violências que já sofri. Posso falar que já fiquei presa em um anzol. Contar que tenho uma coordenação motora horrível e caio com frequência. Posso te lembrar da queda que tive ano passado, quando tive uma convulsão e chorava de dor todo dia, por mais de um mês... Posso fazer isso...
- Você parece bem resistente.
- Eu diria que estamos aí.
- ....
- Que foi?
- Não se acha resistente?
- Eu acho que tenho uma história complicada.
- É, seu histórico é bastante ruim.
- Não to falando de saúde.
Ele voltou a me olhar no olhos. Me encarou com firmeza. 
- Você é forte.
- Sou resistente.
- Mas foi o que eu disse primeiro...
- Sim.
- Quer me explicar?
- Não.
Ele riu.
- Então. A primeira parte do tratamento é muito simples.
- Vai doer?
- Já disse que não consigo te responder precisamente...
- Mas o que você acha?
- Acho que vai.
- Não vou fazer.
- Você acabou de falar que é resistente!
- Exato. Você não acha que eu já resisti a muita coisa?
- Esse tipo de coisa acontece...
- Eu sei.
- E então?
- Não quero.
- Não quer se tratar?
- Não quero viver em um mundo que essas coisas acontecem.
- Mas são acidentes. Entenda... eu sequer teria um emprego se isso não acontecesse.
- Você vive da desgraça alheia.
- Vivo para salvar as pessoas.
- Ah é? - desafiei.
Ele riu de novo. Dessa vez foi gargalhada, sem um pingo de ironia.
- Vamos lá. Você é resistente. Já passou por um monte de coisa. Por que não se tratar?
- Não acho que vale a pena.
- Você não vale a pena?
- Não.
Ele coçou o queixo. Pegou a caneta, estalou. Coçou a cabeça.
- Não entendo...
Bocejei.
- Você já foi pisoteada por cavalos, ficou dias com o pé quebrado, sofreu uma queda feia e ficou sem tomar remédio para dor... Menina!
- Eu cresci em uma família hostil. Fui traída por namorados com melhores amigas. Perdi grandes amigos em acidentes de trânsito, quase na mesma semana. Minha melhor amiga mora em outra região do país. E ainda não sou capaz de falar sobre meu amigo...
- Tudo bem.
- Que?
- Não precisa falar. Sou seu médico há algum tempo, lembra?
- Você sabe a história?
- Pouco... Sei que uma das minhas pacientes mais divertidas ficou muito tempo sem um brilho no olhar... Vinha aqui, conversava, ria das minhas piadas sem graça de médico... Mas estava vazia.
- Eu não lembro de você.
- Sério?
- Sim.
- É por causa dele que você não quer se tratar?
- Não. É por mim.
- Você opta por algo irresponsável e que pode te matar... por você?
- Basicamente.
- Menina!
- Não seja dramático!
Estava começando a gostar daquele sorriso. Fiquei pensando no nível de carência que é necessário alguém alcançar para ficar tanto tempo conversando com seu médico...
- Então. Você vai se tratar, dra-má-ti-ca.
- Por que você faz tanta questão disso?
- Eu não ganho comissão por vida salva, sabe? Isso é só meu trabalho.
- Olá, Balotelli.
- Você acompanha futebol, então?
- Eu não gostava de futebol aos quinze anos?
- Não. Você era emo, lembra?
- Sério? O meu médico, que eu nem sabia que era meu também tá me zoando? Eu posso te processar, não posso?
- Só se você se tratar.
Fiquei sem reação.
Mentira. Apenas não tinha percebido a reação que havia tido.
- Eu...
- Você ainda sabe sorrir!
Meu sorriso se abriu mais.
- Olha, cara. Curto gente chata. Curto quem presta atenção em detalhe. Como funcionaria essa droga de tratamento?
- Você faz o que eu mandar, toma os remédios que eu passar e aí teremos muito mais da sua rabugice por mais tempo.
- Oi?
- São apenas alguns remédios, pra começar. Checamos como seu organismo reage e só se ele negar tudo a gente vai ter que pensar em algo tipo diálise...
- Com aqueles gelzinhos?
- Você ainda se diverte em hospitais?
- Só quando meus médicos são legais.
- Você não disse que sou chato?
- E é.
Ele levantou apenas uma das sombrancelhas.
- Então...
- Cara! Eu sempre quis fazer isso!
- O que?
- Levantar só uma sombrancelha.
- Vamos falar do seu tratamento?
- Vamos, né. Você não quer mais conversar comigo...
- Eu não sou psicólogo, sabe...
- Ainda bem. Detesto psicólogos.
- Eu também.
- ...
- Mas então. Você vai me contar como fez para levar seus órgãos à falência?
- Eu sou muito ruim com dinheiro, cara
- É muito ruim de piada, na verdade.
HHAHAHAHAHAHAHAHA. Gostava daquele cara. Nerd. Passar anos estudando para virar médico? E de fato se importar com a vida? Que chatice.
- Você sabe como eu consegui.
- Sei a parte teórica.
- Como assim?
- Sei que você não pode nem ver uma sonda até hoje sem passar mal. Vi você se arrepiando quando a enfermeira falou de lavagem estomacal. Reparei sua nova ânsia instantânea com comprimidos.
- Eis a história toda, ué.
- Me conta o começo dela.
- Tive um dia ruim. Depois de muitos ruins. Depois de muita coisa chata, além da história que a gente não conversa. E aí tinham algumas caixas de remédio. 
- Só isso?
- Esperava o que? Choro, desespero, promessas? Não... nada de especial. Foi só eu parada em frente à comoda me deliciando com balinhas, todas que haviam na caixa.
- Não parece ruim.
- Não foi.
- Mas é ruim.
- Só porque não me deixaram em paz.
- Não entendo...
- O que? 
- Você tá bem mesmo?
- To ótima. Só alguns órgãos aí estão parando e meu médico quer investir na psicologia.
- Foi só uma curiosidade.
- Tudo bem.
- Mesmo?
- Sim... tirando meus órgãos, como eu disse.
- Você é chata, hein.
O encarei.
- Eu vou fazer o tratamento só porque quero voltar aqui e te encher o saco.
- É isso que você faz? Convence alguém a querer te salvar e sai do aperto sozinha?
- Mas nunca foi de propósito.
- Tentou se matar de propósito?
- Falando assim parece muito ruim.
- Você não acha que foi ruim?
- Foi ruim. Porque envolveram aquelas sondas e quase um ano depois eu estou aqui, pagando por cada comprimido, não estou? 
- Acha que é um castigo de Deus?
- Não.
- Você acredita em Deus?
- Acho que sim. E se ele existir, ele não vai me presentear com o que eu quero para me castigar, não é mesmo?
- É de se pensar.
- Você sempre enche assim quando quer que uma paciente se trate?
- Pelo menos não tomo comprimidos.
- Touché!
Ele riu, envergonhado. 
- Desculpa.
- Cara, eu não tomaria comprimidos... por você. Mas vou tomar esses... também por você. A gente se vê.
- E se doer?
- Deixa que de dor eu entendo. Mas eu nunca tinha conhecido alguém que liga pra dor do outro... e acho que isso faz toda a diferença para que a gente aceite melhor a dor da gente.



Dei um beijo na bochecha do meu médico, peguei as receitas em cima da mesa e saí.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Permissão - no crédito.

Mesmo alguém com um grau de paranoia elevado, como eu, sabe aproveitar e amar tempos de calmaria.
Lembro-me perfeitamente das palavras de Cazuza: "o amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível."
Verdade.

Amor é vida.
E deixe todos seus traumas, receios e perversões de lado para me entender: vida é amor.
O amor é a base. Todo mundo precisar amar. Amar a família, amar o namorado, amar os amigos, amar o trabalho, amar o dinheiro. Amar. Mas se é preciso saber viver, é preciso também saber amar. 
Cuidar, ensinar, aprender. Passar noite em claro, comemorar vitória que não seja sua, estremecer de preocupação, irritar-se com a teimosia alheia. O amor está em tudo. Bem a nossa volta.


E quando estamos completamente apaixonados por nós mesmo, podemos propagar isso ao mundo.


Eu amo.
Tenho esse apreço injustificável pelo drama, pelo tormento, por dar um nó na minha mente. Repito os mesmos erros nos meus relacionamentos, sempre sinto falta das mesmas coisas. E, por Deus, como sou exagerada!
Mas aí, de repente, entendo o vento como sopro, como força para ir além, um pouco mais. E resolvo repousar. Admirar o que há de lindo e o que há de ser. E acalmo o meu coração.
Sem bens, sem nomes diretos, sem convite de chá de bebê, camiseta estampada ou aliança no dedo. Amor é tudo isso. Amor é o tempo todo.
Amor é amor, e é bonito, quando a gente deixa ser.
Permita-se, na ausência de outras opções, apenas amar a vida. E você.







(A Maiara, cheia de impropérios, borros de maquiagem e cicatrizes no coração, cansou de pedir e hoje só queria agradecer - pelo coração quase saltando do peito quando New Found Glory a acorda todo dia pela manhã, pela calça um número menor que coube e combinou com o sapato novo, pelos 10 pãezinhos de queijo na estação que servem de reforço para conseguir subir o escadão sem se abalar com a dor no joelho e no calcanhar, pelo bom dia com cheiro de café dos colegas de trabalho, pelo almoço com prato repleto de salada que ela sentia falta, por conseguir resolver uma crise para um cliente, pelas conversas cheias de risada à caminho da faculdade, pelos abraços que nem precisam ser solicitados, pelas aulas que lhe acrescentam e ensinam de verdade e por ir dormir todo dia sem reclamar da respiração. Por toda a paz que chegou, que pode ficar quanto tempo quiser, possivelmente trazida por expectativas comprimidas, ausência de ilusões, gestos fofos, sinceridade nas atitudes e cafuné no abraço de conchinha de cada final de semana.)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Teoria do Sorvete - Exceções e Excessos.

Podia, né? A gente se beijar, se abraçar e não ter cobrança.
Parece que o mundo se dividiu. Os que querem um romance e não admitem o amor livre versus Os que desacreditam e são contra tudo isso e querem apenas um orgasmo.
Por que ver tudo como extremos opostos? 
Dá pra somar! Multiplicar...
Dá pra você me ligar, falar que curtiu, que quer repetir, quem sabe.
Eu ficarei feliz, contarei para alguma amiga e sairemos de novo.
Sem promessas, sem ilusões. Só a gente. Pra variar.
Que tal?
Não estou pedindo amor, aliança e satisfações. (Nem ferrando, aliás.) Mas eu gosto de não ter o trabalho de jogar todo o joguinho da sedução em uma noite que estou a fim de ir embora acompanhada. 
Não é porque eu sou mulher que tenho a obrigação de estar apaixonadinha. Nem o fato de você ser homem te obriga a me ver como um pedaço de carne. 
Eu também gosto de sexo e aposto o que for que você também gosta de carinho. Sexo, cafuné, dormir de conchinha é tudo o que eu poderia querer pra nós. Viu, só? Querer, sem exigir.
Pode me pegar, tá liberado. Mas pega na minha mão também, sei lá. Só para eu saber como é. Tenho tanta necessidade de contato físico quanto de gestos fofos. E não, eu não vou confundir as coisas.
Sou grandinha, sou vacinada.
Prometo não encher o saco. E não me encha também.
Vamos conhecer outras pessoas. Não tem nada de mais.
Mas tudo isso só vale se você quiser também. Não tem graça se eu estiver nisso sozinha. Nem sou tão egoísta a esse ponto.
Vamos nessa?
Apenas aproveitar a eternidade desse instante. Todo mundo lucra.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Dei o meu coração à ele.

Dê seu coração a ele, e ele lhe dara o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?




Estava chovendo. Sim, faz muito tempo e qualquer um dirá que é impossível que eu me lembre, mas sei que estava chovendo. Ele chegou quase que embrulhado pra presente, pagamento da promessa da minha mãe que jurou que me daria o que eu quisesse se parasse de chorar. Com toda minha desenvoltura de dois anos de idade, pedi por um cachorro. Chegou algum tempo depois, num sábado chuvoso e eu brinquei com ele até dormir de cansaço. No dia seguinte, bem cedo na manhã do domingo, o batizei de Xuxo. Oras, meus ídolos infantis não era muito bons mesmo, mas com dois anos e fã da Xuxa, achei que era uma baita homenagem ao meu novo amigo peludo.
Digo amigo e me lembro de todos meus ideais, valores e princípios que me fazem enxergar a amizade como algo eterno. Para mim, amizade transcende. E não há discussão, diferenças ou competição que a faça acabar. Ao menos não se ela for verdadeira. 
Xuxo era mais que o mascote e o segurança da casa. Sim, ele era mimado por todos, até por quem não fazia parte da família e latia quando algum estranho cheva em casa. Mas isso era só o seu instinto.
Xuxo era meu amigo. Me lambia no rosto, corria pra mim quando eu chegava em casa e nunca, nunca saiu do meu lado.
Xuxo ouviu todos meus dramas infanto-juvenis. Ouvia e ouso dizer que me aconselhava com seus olhares. O olhar dele sempre foi seu ponto forte. Foi por causa do olhar dele que decidi que ele não tomaria mais banho fora, porque ele visivelmente detestava. Foi pelo olhar dele que eu sabia quando ele estava doente, quando ele estava assustado, quando ele só estava fazendo manha.
Eu o conhecia muito bem.
Foi pelo olhar dele também que eu entendi que ele queria ir embora. Ele tinha acabado de sair do banho, eu o secava, ele virou a cabeça desconfortavelmente para mim e pediu. Eu não aceitei, é claro que não. Como poderia? Não, ele ia lutar. Ele ia ser forte como foi a vida toda e ficaria mais tempo. Eu precisava disso.
É irônico, né? Um bicho tão egoísta como o ser humano resolver ter como companheiro uma raça tão pura e superior. 
Eu pensei em mim, na falta que ele faria, em como seria não escutar os latidos dele, me gabar das peripécias dele e com quem eu desabafaria. 
Não, ele não podia me deixar. Que tipo de amigo é esse que me abandona depois de 17 anos?
Foram mais de 17 anos com o mais leal dos companheiros. Foram pouquíssimas horas de sono, muita preocupação, muitos remédios e muita dor durante essa semana inteira - de ambas as partes. Então, num sábado a noite chuvoso, após três convulsões e muitas lágrimas, tive que tomar a decisão mais difícil da minha vida. É horrível, mas acredito ter feito o melhor, evitando o sofrimento de um espírito que jamais mereceria o prolongamento disso. Meu cachorro, meu melhor amigo e ouvinte por praticamente a vida inteira, vai descansar para sempre. E eu já estou com muita, muita saudade.



Um cão não é 'quase humano', e não conheço maior insulto à espécie canina do que descrevê-la como tal.
John Holmes 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Comigo nunca.

Sabe aquele momento que você retribui empolgadamente o aceno de alguém e descobre que não era pra você? aí você tem que disfarçar, dá uma espreguiçada e finge que nem era aquilo, como se seu gesto tivesse sido apenas um mal jeito no pescoço?
Minha vida amorosa é assim.


Cumprimento várias pessoas, todos os dias. Às vezes, me dá a impressão que conheço de algum lugar o carinha que me olha do outro lado do vagão do metrô. Se ele sorrir, eu retribuo, porque ele deve me reconhecer também. Mas não... Ele só queria me avisar que a bolsa estava aberta...
Eis um ótimo exemplo para entender o tipo de relações que estabeleci ao longo da minha vida.

Nunca tive alguém (que não fosse apenas amigo) para ligar quando eu me estressei com meu chefe. Nunca tive alguém para passar o dia junto, intercalando banhos de banheira e filmes de suspense. Nunca abracei alguém e senti o coração dele querendo pular pra fora do peito como o meu.

Admito que talvez a culpa seja minha.

Nunca me permiti acreditar em palavras fáceis e sentimento de estação.

Mas talvez eu apenas não saiba curtir. Me deixar levar sem pensar no depois. (Eu sempre penso. Demais.)

Parece que tem coisa que só não acontece comigo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Agora não.

O fim já tinha chegado. Chegou e passou. Você sabia. Vocês não se falavam já tinha algum tempo. Nem pela internet. Você ficou sabendo que ele recebeu uma promoção no trabalho pelos amigos em comum. Viu no facebook que ele tinha cortado o cabelo. Mas você não ligou para dar parabéns nem comentou a foto. Ele não faz mais parte dos seus dias. Não faz mais parte de você. Você mesma tem frequentado mais open bares do que seu fígado pode aguentar. Fez novos amigos. Passou uma temporada no hospital e nem se preocupou em avisar ninguém. Estava cogitando aceitar o cinema com aquele cara da academia que sempre deu em cima de você. A vida estava seguindo normalmente e feliz.

Por que isso agora, então?
Isso não faz muito sentido!


Não, não faz.
E aí ele não te quer mais? Você também não quer mais ele. Certo?

Mas eu sei, incomoda. Ela faz bem mais o tipo dele. Ela dirige, fala inglês e tem a mesma idade. Ela até parece ser bonitinha. Mas pera lá, ela comete erros de português e divulga correntes na internet. Não tem nem metade do senso de humor que você orgulhosamente possui. Não sabe nem se divertir.

O que ele viu nela?

Bem, isso vai doer, mas sabemos o que ele não viu: você.
Desculpa, mas é a verdade e alguém tinha que lhe falar.

Ele não viu suas mechas descoladas, nem seu estilo inconfundível, nem seu sorriso incrível. Mas foi mais do que isso. Ele não viu ela resmungando para ele não pagar a conta, pedindo por mais atenção ou reclamando do modo que ele dirige. Ele não viu ela de óculos e short curto pedindo pra ele relaxar. Ele não quer mais você.
E você também não o quer. Ela que vai ter que lidar com o machismo e desconsideração dele, não é? Você se safou!

Por que diabos então você não está comemorando? Dói, né? Eu sei. Mas foi melhor assim. Você sabe. Você tentou. Vocês tentaram.
Dizem que os opostos se atraem, mas pode reparar: ninguém disse que eles dariam certo.

Às vezes, precisamos colocar um ponto final onde as vírgulas já não fazem mais diferença.

domingo, 30 de outubro de 2011

TO WRITE LOVE ON HER ARMS

Não chorou, não fez cena, apenas digitava no celular sua senha e instruções do que deveriam fazer com as coisas que lhe eram importantes.
Não cortou os pulsos, não foi encontrada no chão do banheiro, não pulou do alto do prédio.

Apenas chegou em casa, mais uma vez. Estava sozinha, mais uma vez. Como sempre. Injustiçada, como sempre.

"Já que todos estão contra você, não acha que deveria aceitar que está errada?"

Concordo. Estou, e olha, não foi por falta de tentativa de melhorar. Sempre quis ser boa, ser pura, ser exemplar. E sempre decepcionei a todos.

Cansei. Definitivamente. De uma vez por todas.

A cada comprimido vinha uma lembrança, que só me fazia ter certeza que aquilo era, sim, a melhor atitude. Comi um ultimo pedaço de pizza. Fui deitar.

Vomitei. Muito e muito forte. Minha mãe acabou ouvindo e trouxe um balde. Péssima idéia. Não saberia dizer em que momento, no meio da minha náusea, minha mãe encontrou as cartelas de comprimidos vazias. Três caixas e meia. Ela falava comigo, variando entre raiva, decepção e mágoa misturados no desespero. Quando eu conseguia, falava que já ia passar. Era a esperança. Dessa vez, ia.

Serviço público como SAMU não faz questão nenhuma de correr quando sabe que foi tentativa de suicídio. Acho que eles estão certos. Queria que minha mãe entendesse e me deixasse e largasse o telefone. Fiquei pior e usei toda e qualquer fora que me restava para chegar pro banheiro. A visão estava embaçada e a respiração falhava. O policial chega, arruma minha roupa, pergunta se eu briguei com o namorado e me coloca no carro. É incrível como as pessoas não entendem.

Não foi namorado, não foi uma nota baixa, não foi a grana curta. Foi a vontade de continuar respirando que desapareceu. Foi-se, apenas. Foram dezoito anos tentando agradar a todos, de verdade. Foram dezoito anos de nenhum sucesso. De feitos desprezados. Sentimentos esnobados. Ideias ignoradas. Pelo mundo. E só.

Nada mais importava. Nada de bebidas, de cigarro, de remédios. Só queria que parasse. Foi fácil tomar cada comprimido e, lamento informar que não me arrependo. Cada comprimido era tomado junto com um pensamento ou sentimento que não foi tão facilmente engolido.

Foi uma madrugada terrível de sondas, dor e julgamentos. Não havia uma pessoa sequer em todo o hospital que não estivesse disposta a me dar sermão e me ensinar a viver. Não tenho raiva. Tenho pena. Sério mesmo que eles acham que entendem? "Se conseguiu passar os comprimidos, consegue passar a sonda, mocinha". "Não, não pode beber água. Pode repensar sua atitude..." e o meu favorito: "Você tem de tudo, por que fez isso?". Vamos falar de valores e ideais, então, moça? Pode ficar com cada centavo que eu mesma conquistei sozinha se você convencer minha mãe a parar de tratar isso como se fosse pouco. Nunca mais reclamo dos meus tendões inflamados se você convencer minha irmã a parar de mentir sobre mim. E realmente, entrego essa vida que vocês estão insistindo em manter ao trabalho voluntário se você me apresentar um ser humano digno de admiração pelo bom coração. Aliás, faço qualquer coisa para ignorar a minha vida. Foi exatamente o que eu estava tentando fazer.

Não, não vejo nada de poético no suicídio. Enxergo apenas o desespero. Não foi impulso, não foi a primeira vez. E vejo a força de fazer pelo menos a minha última vontade ser respeitada: QUE PARE.

domingo, 10 de julho de 2011

Irresponsabilidade Social

As pessoas sempre vão embora. Elas vem, mas não deveriam. Vem quando não deveriam. Se vão quando a gente mais precisa. Deixam aquele vazio. E vazio é ruim. Está vazio porque foi preenchido antes, um dia. E para que, então, tirar depois? Assim, sem nem dar satisfação.

As pessoas não conseguem mais se dedicar. Não querem mais. Não podem ficar mais tempo. Não se empenham. E reclamam. Porque como não dá para se comprar pessoas especiais em lojas, decidiram que não era importante.

Porque eu não quero receber scraps, inbox e sms em que dizem sentir minha falta, se não dá para arranjar um tempo para me ver. Não quero ser apresentada à amigos e a família, se na real eu for só mais uma. Não quero entrar no seu carro, se não puder entrar também na sua vida. Não quero responder você no msn, se a conversa for ficar pela metade. Não quero me divertir com você na balada, se eu não puder contar com a sua ajuda quando o pneu do meu carro furar. Não quero saber do seu passado se não quiser viver comigo o seu presente. Não quero que faça planos comigo se não puder me incluir no seu futuro.

Não, eu não vou perdoar você não ter nem ao menos me ligado para saber se eu estava bem após eu ter tido uma convulsão. Considero, sim, uma espécie de compromisso verificar se eu preciso de um abraço, chocolate ou tequila depois que meu namoro termina. Se você não sabe quais são meus problemas, é exatamente porque se ausentou e não tomou cuidado com o que era tua responsabilidade por ter cativado. Digo, só se você se importar.

Sabe, eu também detesto cobranças. Não vou lhe cobrar nada, muito menos, aquilo que você não pode me dar. Por isso já aviso para que nem perca seu tempo comigo. Porque se for encarar o desafio, eu vou pedir para que, se resolver estar comigo, que realmente esteja. De olhos fechados e celular desligado. E apenas se for verdade. Se for a sua vontade. Não apareça com meio termos, com ausência de opinião ou posicionamento. Não venha pela metade, com mais ou menos. Só quero se for inteiro. Completo. Desculpa, nunca me contentei com resto, migalhas, pedacinhos. Quero corpo, alma, traumas, vísceras, cicatrizes, tripas e falta de ar. Por favor, seja todo e completamente você. Para mim, quem sabe.


Por uma sociedade mais legal. E leal.
Dedicação total a você.
Porque eu gosto mesmo do que é intenso e sincero.






"Exagerada toda a vida, minhas paixões são ardentes. Minhas dores de cotovelo, de querer morrer. Louca do tipo desvairada. Briguenta de to de mal para sempre. Durmo treze horas seguidas. Meus amigos são meio-irmãos, meus amores são sempre eternos e meus dramas, mexicanos!"




(Obs: Tem dedinho de Brena Braz e de Caio F, mas a revolta é toda minha.)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Saudade, um destino.

Acabou. Como eu previ no instante em que os nossos lábios se tocaram pela primeira vez. Mas foi pior do que eu achei que seria, quando desejei por isso. Eu não estive apaixonada. Não havia o menor sinal de borboletas ou qualquer outro bicho patético no meu estômago. Eu achava que estava no controle da situação. E é sempre assim que a gente se ferra, né?

Você não levava nada a sério, não se comunicava direito comigo (logo eu, que estudo comunicação social), não me respeitava. Você tinha um filho. Gostava de black. Não suportava cigarro. E são duas da manhã de um domingo e eu sinto a sua falta. Bastante.

É tão errado, não é? Bati o pé para não conhecer sua mãe, para não falarmos de compromisso, para você não conhecer meus amigos. E agora eu sinto vontade de chorar e queria um abraço seu. Queria sua mão me esquentando, reclamar da sua barba e sentir ciúme dos seus amigos.

Eu que não gostava direito de você, esperei ansiosamente, como criança em véspera de natal, que você me presenteasse com seu afeto, com sua paixão. Não pelas palavras, que vieram cedo demais. Queria que você viesse me dar remédio quando eu estivesse doente ou que você desistisse do jogo do time do seu coração para vir ficar comigo e minha carência de domingo. Assim como eu fiz por você.

Não foi justo. Logo eu, que sempre prezei pela lealdade. Foi sempre do seu jeito, sempre me anulando, sempre insistindo. Porque achava que valia. A certeza que não terminaria me magoando era motivadora.


Pois é, não aprendi. Todos os meus desastrosos relacionamentos não me ensinaram nada. Eu continuo insistindo nas pessoas e nos homens. Insistindo nesse tal de amor. Amor que eu já desprezei e afirmei que não existia diversas vezes.


Não adianta pedir para você voltar. Só vai aumentar a agonia e meu consumo de café com whisky e chocolate. Mas o que eu faço se dói de olhar para o meu celular que insiste em avisar que "não, Maiara, não há novas mensagens"? E a pizza que você está me devendo? E nossas visitas de madrugada ao Fran's Café? E se sua irmã me ligar de novo? E quando minha mãe me perguntar de você? E a minha culpa?


Sim, sei que a gente não ia mesmo dar certo. Sei que paramos até tarde demais. Não quero mais me estressar, sentir que você não está sendo honesto, engolir o choro e pedir para você me levar para casa. Não quero mais ficar com alguém que me deixa sozinha. Mas queria você. Assim, como quem não quer nada.








Sempre foi a saudade que acabou ficando comigo até o final.