E justamente por ser ele, que me mostrou tantas maneiras novas de enxergar o mundo, que me sinto na obrigação de registrar mais uma vez o que sinto, em palavras. Aqui.
Quando me perguntam dele, a resposta mais simples costuma ser sempre minha aposta. Concordo, com muito respeito, com quem dizia nos achar um casal fofo mas sempre acrescento que ele me enlouquecia. E eu o enlouquecia de volta, não poderia deixar de admitir. Fazíamos cenas horrorosas, cheguei a sair do carro em movimento em meio à uma discussão e lembro exatamente da minha decepção quando, na quinta ou sexta vez que saímos juntos, percebi que ele não esperava eu sequer colocar a chave no meu portão antes de partir com o carro.
Éramos bizarramente diferentes. Entretanto, aposto que era isso que nos atraía um ao outro.
Entre todos meus textos sobre caras que nunca performaram o que sempre esperei de romances e relacionamentos, finalmente entendi porque ele é um dos meus personagens-reais prediletos: tudo o que já escrevi sobre ele foi real.
Quando eu falava entre dentes, daquele jeito ridículo que se age quando estamos nos apaixonando, não estava fazendo tipo. Eu, que sempre fiz a linha viciada em comédia romântica que vive ensaiando para apresentar aquela cena de arrancar suspiros, com ele sempre improvisei.
A resposta para o fim do relacionamento também sempre "não deu certo, não iria dar certo".
Mas isso é mentira. A verdade é que nossas diferenças como casal nunca me fizeram perder a admiração que tenho (sim, no presente!) pela pessoa que ele é.
Não sou capaz de lembrar de nenhum tema com o qual concordamos - de política à astrologia -, mas recordo com extremo carinho da absoluta delicadeza com a qual sempre me tratou e do conforto que me proporcionava.
Se eu sabia que jamais funcionaríamos como casal cada vez que tecíamos considerações sobre planos de vida para família e limites pessoais, e nunca quis assumir compromisso com ele, compenso ao destacar que na nossa relação nunca houveram mentiras e ilusões. Tivemos nosso tempo muito bem acertado, ao contrário do que já pareceu. Só o fim que se enrolou, provavelmente porque é muito difícil mesmo, para qualquer um, abrir mão de uma boa parceria.
Exatamente, ele foi meu parceiro. Exímio.
Me encorajava a correr atrás dos meus sonhos, apontava com paciência quase pedagógica o que eu poderia melhorar e desbravou o mundo comigo.
Em uma noite solitária, meses após o término oficial, me ouviu desabafar dificuldades da vida e me ofereceu mais que dinheiro: me deu esperança.
A minha primeira vez mais importante foi com ele;
Foi a primeira vez que coloquei meus pés frente aos pés de outro alguém e senti que podia pisar ali com firmeza, que era um cantinho seguro em meio à tantas armadilhas que encontramos pelo mundo afora.
Ele me ofereceu apoio de todas as formas possíveis, algumas que eu nem sabia que existiam.
Dividimos além de apelidos, era um bem-querer recíproco. Ainda é, ao menos da parte que me compete.
Eis então que ele entrou na igreja para eternizar amor e união. Também cheguei a escrever uma ou duas bobagens sobre a pessoa com a qual ele dividiu aquele momento no altar. Acredito que ninguém seja totalmente imune à sentir a tão famosa dor de cotovelo num momento desses, afinal. Mas agora já é possível distinguir que foi mera reação de choque, essas que qualquer humano sentiria.
Quem se importa com minha opinião sobre o vestido da noiva quando estamos falando de um ritual tão bonito quanto o matrimônio?
Casamento é sobre muitas das coisas que aprendi com ele: respeito, amor, comprometimento e intimidade. Ele não mereceria menos.
Honra é o que sinto ao escrever esse texto e é com o coração tranquilo que posso, enfim, aposentar o ele como personagem que saiu do livro com dignidade e construiu um felizes para sempre próprio, sem se tornar vilão.
A história aqui ainda promete muita aventura, lágrimas, pé na bunda e beijo na boca, e a graça é que ninguém é capaz de prever se terminará com essa donzela-que-de-indefesa-não-tem-nada encontrando um par ou só encontrando a si mesma - o que, por Deus!, já seria incrível o suficiente.
Porém, na necessidade de uma moral da história, pode-se destacar que ela reservou um espaço no meio dessa pseudoautobiografia pra atualizar esse agradecimento à quem agregou muito ao participar do enredo.
Para avisar que é um sentimento muito bom saber que ele disse "sim" para uma bela moça de branco que afirmou positivamente de volta.
Divido com ele, então, uma última coisa: felicidade em vê-lo feliz.
”O amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte”
(livro O Pequeno Príncipe)